Parques | ‘Tertúlias com Histórias’, a Democratização do campismo associativo

A caminho das comemorações do 80º aniversário da FCMP, a atividade do Centro de Formação ‘Tertúlia com História’ recordou episódios do campismo e montanhismo durante o século XX, com o testemunho do decano Justino Valente, o mais prestigiado dirigente associativo da modalidade. O campismo moderno -atividade de lazer em contacto com a natureza- sofreu alterações inerentes à evolução dos tempos. Se a partir do ano 1900 o campismo foi, em grande medida, desenhado pelo associativismo, não é menos verdade que a implementação de parques de campismo democratizou a atividade, manifestamente a partir da década de 50 e sobretudo após a Revolução. Vamos aos factos.
Seguindo a corrente associativa europeia e o movimento internacional dinamizado pela Federação Internacional de Clubes Campistas (designação da FICC em 1933), a fundação do então Clube Nacional de Campismo tinha como um dos propósitos o desenvolvimento e promoção da atividade através das instalações de locais destinados à prática do campismo, mais tarde designados por parques de campismo. Na década de 40 instalaram-se ou designaram-se zonas dedicadas (terrenos, matas nacionais, etc.), colónias de férias ou casas abrigo, confluindo para a necessidade de implementação de parques de campismo na década seguinte. É então que surgem os primeiros parques de campismo (associativos). Atualmente o mais antigo em funcionamento é o parque da Costa da Caparica do Clube de Campismo de Lisboa (1952), tendo sido instalado nas matas nacionais em terreno cedido pelos “Serviços Florestais”. Mas é na década de 60 que ocorre a maior expansão, até então, da rede nacional de parques de campismo, quer associativos quer comerciais.
A velha atividade de mochila às costas, onde o campista, em fuga do quotidiano, ia para o campo, contanto apenas com os seus próprios recursos, dava agora lugar a uma forma de lazer e ocupação dos tempos livres em instalações qualificadas e acessíveis à generalidade das pessoas que planeavam férias mais económicas. Naquela época, a substância do campismo passa sobretudo a constituir uma forma de alojamento, enriquecido pelo convívio e partilha que o associativismo oferece. Não obstante, dadas as condicionantes do regime do Estado Novo, somente após a revolução de 1974 se verificaram os grandes aglomerados de acampamentos de média duração (sazonal) que passados poucos anos manifestavam o interesse em permanecer de modo prolongado, durante todo o ano, dada a evolução e transição para unidades de alojamento mais confortáveis e resistentes. Por conseguinte, na década de 80 são instalados os primeiros atrelado-tendas e caravanas por períodos prolongados, cativando novos praticantes, que para além do período de férias, alojavam-se comodamente durante os fins de semana das estações frias do ano.
Em síntese, a expansão da oferta em todo o território e a sofisticação de meios de alojamento mais acessíveis resultaram em parques de campismo de cariz residencial com outras valências, nomeadamente serviços permanentes de recreação, animação, restauração e outros cada vez mais comparáveis com outras tipologias de empreendimentos turísticos, distanciando-se das tradicionais modalidades desportivas. Todavia, os parques de campismo associativos são fontes de convívio e confraternização entre associados. Este desidrato deve ser porventura encarado como fator diferenciador dos demais parques de campismo (comerciais e municipais) e repensado como força de (re)desenvolvimento do setor.
Atualmente estima-se que mais de dez mil famílias praticam campismo em regime permanente, distribuídas pelos parques associativos e federativos, nas várias tipologias de unidade de alojamento, nomeadamente atrelado-tenda, caravana, autocaravana e mais recentemente mobile-homes.