O ano da sustentabilidade em revista: o campismo dentro ou fora desta jornada?

O ano de 2023 foi marcado, em diversos momentos, pelos temas mais prementes da atualidade. Sem menosprezar o impacto da inflação de preços ou dos conflitos militares, não só nos destinos, bem como nas escolhas dos visitantes, o tema das ‘alterações climáticas’ tem sido o pano de fundo para um conjunto de reflexões, estratégias e mudanças de hábitos, que se traduzem em novos valores de reconhecida importância, como a resiliência, sustentabilidade ou regeneração.

O Turismo de Portugal I.P. advoga que “a sustentabilidade no turismo é um caminho incontornável e assumido com crescente consciência pelos agentes do setor, à escala mundial”. Não obstante, este é (ou deveria ser) um tema bastante caro ao setor do campismo. Em primeira análise, o contexto natural, a paisagem, a biodiversidade e o ambiente são por si só recursos essenciais para a prática da modalidade. Sem o contacto com a natureza e tudo o que ela oferece não existiria, nos termos em que o conhecemos, esta atividade recreativa designada por campismo. Sem prejuízo da missão fundadora do campismo (associativo) de preservação da natureza, que caminho está ser percorrido nesta jornada da sustentabilidade? Estarão as entidades exploradoras capacitadas para este desígnio? Paradoxalmente, o campismo é o segmento do turismo com maior contacto com a natureza e, portanto, onde devem ocorrer as melhores práticas de sustentabilidade, no entanto, não é o que se observa na prática, ou quando muito, ainda não foi reconhecido. O presente artigo pretende refletir qual o posicionamento e os desafios a alcançar. Comecemos pelos conceitos.

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), a sustentabilidade ou desenvolvimento sustentável “é a capacidade de satisfazer as nossas necessidades no presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades”. Em 2015, as Nações Unidas aprovaram a Agenda 2030, constituída por 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), um programa suportado por três pilares fundamentais, ambiental, social e económico, com o intuito de promover a paz, a justiça e instituições eficazes.

A Organização Mundial de Turismo (OMT), neste âmbito, define que “o turismo sustentável deve fazer um uso adequado dos recursos ambientais, respeitar a autenticidade sociocultural das comunidades e assegurar que as atividades económicas sejam viáveis no longo prazo. Requer ainda a participação informada dos intervenientes, a monitorização constante dos seus impactes, mantendo um elevado nível de satisfação dos turistas”.

Ao nível nacional, o Turismo de Portugal estabeleceu os seus instrumentos de planeamento, designadamente a “Estratégia Turismo 2027”, operacionalizando a primeira fase no “Plano Turismo +Sustentável 2020-2023”.(ver vídeo), através da adaptação da legislação, apoio financeiros às empresas do setor mais sustentáveis e acessíveis e formação executiva para os agentes. Este organismo público de regulação do turismo sugere às empresas do setor uma transição baseada nas seguintes áreas de ação:

 

Apesar de estas serem algumas das áreas de ação identificadas pelo Turismo de Portugal, o caminho para a sustentabilidade não se esgota aqui e cada entidade exploradora deve iniciar a sua jornada, nos seguintes passos:

Os dados em matéria de sustentabilidade são escassos, não permitindo concluir em concreto o problema inicial, no entanto, são conhecidos alguns de exemplos de boas práticas de parques de campismo.

 

Parque de campismo de Cerdeira

O parque de campismo de Cerdeira tem sido reconhecido por boas práticas ambientais e sociais.

 

Desde 2015 que o Parque Cerdeira recebe o galardão Green Key – ABAE, um programa internacional que promove o Turismo Sustentável através do reconhecimento de estabelecimentos turísticos que implementam boas práticas ambientais e sociais, que valorizam a gestão ambiental nos seus estabelecimentos e que promovem a Educação Ambiental para a Sustentabilidade.

Salema Eco Camp – Sustainable Camping & Glamping

O Salema Eco Camp tornou-se a primeira e única Unidade Hoteleira da Região do Algarve, com o Certificado de Neutralidade de Carbono – Certificate Of Verified Carbon Unit (VCU) Retirement, em Novembro de 2021.

Conforme referido, um dos meios fundamentais para comunicar boas práticas de sustentabilidade é a atribuição de rótulos ou selos destinados ao efeito.

Os parques de campismo podem obter certificações ambientais para demonstrar o seu compromisso com práticas sustentáveis. Um exemplo é o programa Green Key.

Existem ainda várias certificações ambientais na área do turismo, nomeadamente:

As entidades exploradoras de parques de campismo devem tomar consciência da nova realidade, como forma de captação do novo perfil de consumidor.

A FCMP enquanto entidade com responsabilidade de regulação e promoção da atividade e representação de um conjunto de entidades exploradoras com décadas de experiencia, deve chamar a si a responsabilidade de junto da tutela iniciar uma estratégia comum de responsabilidade sustentável, envolvendo fabricantes, utilizadores, fornecedores, autoridades e grupos organizados.

João Valente.