O IMPACTO DA PANDEMIA NO CAMPISMO

O campismo tem tido uma evolução significativa, que importa analisar de forma a compreender o estado atual. Embora originalmente tenha surgido como uma experiência individual e informal, passando a uma atividade coletiva e organizada, o campismo, nos dias de hoje, procura refletir as necessidades atuais do consumidor moderno. Considerando que o crescimento desta atividade está cada vez mais dependente de soluções inovadoras e alternativas, o campismo encontra-se neste momento a ser redesenhado para proporcionar uma experiência integrada na natureza, mas com o conforto e comodidade do quotidiano.

A evolução do número de utilizadores de parques de campismo confirma o desempenho positivo desta tendência, acompanhando a atividade turística em Portugal até 2019. Todavia, os dois anos seguintes, demonstraram o impacto negativo da Covid-19, onde importa analisar os seus efeitos e a capacidade de resiliência e recuperação do setor perante a “nova realidade”.

De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística, “a generalidade dos meios de alojamento turístico registou, em 2022, cerca de 29 milhões de hóspedes, que proporcionaram 77 milhões de dormidas, tendo aumentado 80,7% e 81,1 %, respetivamente (+36,9% e +40,7%, pela mesma ordem, em 2021), ficando, ainda assim, ligeiramente abaixo dos níveis de 2019 (-2,2% e -0,8%, respetivamente)”.

Naquele período, nos parques de campismo concentraram-se 7,0% dos hóspedes e 8,8% das dormidas registadas no setor do Turismo em Portugal. O que em termos absolutos se traduz em cerca de 2,0 milhões de campistas (+47,5% face a 2021) e 6,8 milhões de dormidas (+36,9%). Comparando com o período anterior à pandemia, face a 2019, o número de campistas cresceu ligeiramente (+1,3%), mas as dormidas foram inferiores (-2,6%).

Os resultados estatísticos ao conjunto dos Inquéritos de «Permanência de Campistas em Parques de Campismo» demonstram que no verão de 2022 estavam em atividade 257 empreendimentos, mais 22 face a 2021, o que é demonstrativo da capacidade de mercado em adaptar-se às circunstâncias e oportunidades que decorrem da procura pelo interior, o contacto com a natureza e refúgio para locais isolados e menos densos. São exemplo disso, as regiões Norte e Centro que representam 58% da capacidade total de alojamento (190,7 mil campistas).

Não obstante, o Algarve continuou a registar o maior número de dormidas (2,0 milhões, 29,6% do total), apresentando um crescimento global de 46,0% face ao ano anterior, em virtude da utilização de campistas estrangeiros que em 2022 superaram os níveis pré-pandemia (+7,8% face a 2019 e +90,6% face a 2021). Já os utilizadores residentes em Portugal continuam a predominar o número de dormidas em parques de campismo (4,1 milhões e representando 60,9% do total), com preferência pelo Centro (22,8%), seguindo Área Metropolitana de Lisboa (22,4%), o Algarve (20,5%) e o Alentejo (20,2%).

Dada a prática sazonal desta atividade, os meses verão são mais procurados, sobretudo em agosto. Em 2022 entre junho e setembro registaram-se 56,7% das dormidas anuais (após 59,4% em 2021). Por outro lado, a estada média, tal como referido anteriormente, diminuiu (7,2%), tendo-se situado em 3,33 noites (3,59 noites em 2021), continuando o Algarve (4,24 noites) a destacar-se.

Gráfico 1: Evolução de dormidas em parques de campismo em Portugal de 2002 a 2022. Fonte: INE, 2023

É inquestionável o impacto da pandemia COVID-19 na atividade económica em geral, particularmente no setor do Turismo, nos anos de 2020 e 2021. O setor do campismo apresentava indicadores bastante promissores antes deste evento. Apesar de o ano de 2022 indicar uma recuperação, dois anos de escassa utilização, resultaram numa diminuição abrupta de receitas, que habitualmente destinavam-se a investimentos de melhoria das condições e serviços prestados. Pese embora o período de encerramento dos parques de campismo, por força do confinamento, outros custos extraordinários impuseram-se nomeadamente para efeitos de higienização e aquisição de equipamentos de proteção contra propagação do vírus SARS-Cov2.

Os resultados comprovam que a atividade dos parques de campismo recuperou em larga medida, desde logo pela redescoberta pelo contacto com a natureza e pelos destinos turísticos do interior. Por outro lado, verificou-se uma diminuição de viagens de portugueses ao estrangeiro para fins lúdicos e inversamente, um aumento da procura de estrangeiros em países europeus periféricos, pelas vicissitudes do conflito militar na Ucrânia.

Seguramente, a conjugação destes fenómenos resultou em alterações profundas em toda a cadeia de valor do setor do turismo e em particular dos parques de campismo. Conclui-se que a geografia dos destinos procurados, duração de estadas e novos públicos que encontram nesta atividade uma via alternativa ao quotidiano, devem ser fatores de reflexão a novos modelos de gestão. Assim, o setor do turismo, incluindo entidades gestoras (federação, clubes e empresas) e indústria, devem dar resposta aos novos desafios, ao nível da qualidade, sustentabilidade, inovação, digitalização, comunicação, acessibilidade e inclusão. Neste sentido, a FCMP continuará vigilante e atuante na construção contínua da modalidade.

 

Coordenação Técnica, Campismo

João Valente

 

Referencias bibliográficas
Cavaco, A. F. (2019). Análise da interação entre dois focos de incêndio – aplicação prática no caso da segurança contra incêndios nos parques de campismo e caravanismo. Coimbra: universidade de Coimbra.
INE. (fevereiro de 2023). Dormidas (N.º) nos parques de campismo por Localização geográfica (NUTS – 2013) e Local de residência; Anual. Obtido de Instituto Nacional de Estatística: https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0001822&contexto=bd&selTab=tab2
FCMP. (2023). História da Federação. Obtido de Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal: Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal Site oficial da FCMP – A FCMP (fcmportugal.com)