Sobre a modalidade
O canyoning ou canionismo consiste na descida de cursos de água, geralmente no troço montante onde ocorrem cascatas e canyons (canhões), ou seja, em áreas montanhosas. A utilização de diferentes técnicas e materiais adequados permite progredir ao longo dos desfiladeiros mais recônditos e/ou complicados. Esta actividade combina técnicas de espeleologia e de escalada, mas vai mais além, com saltos ou deslizamentos em escorregas naturais. Trata-se de uma actividade que conduz quase sempre a descobertas fantásticas, paisagens soberbas e recantos plenos de pitoresco. Desfrutar de quedas de água refrescantes, pegões de águas cristalinas e marmitas de gigante com morfologias insólitas é certamente motivador. O canyoning é tudo isto e muito mais.
A procura de ambientes de beleza excepcional e a atracção pela aventura levaram os montanhistas e os espeleólogos a explorarem vales vertiginosos. Devido à sua pitoresca morfologia e inacessibilidade, regiões como as serras de Guara (em Espanha) e de Verdon (em França) transformaram-se em verdadeiros santuários da actividade. Mas é justo destacar que os espeleólogos foram os primeiros a interessar-se pela descida de canyons. Razões históricas que, ainda hoje, se traduzem nas técnicas utilizadas nessa modalidade. As técnicas em uso apresentam semelhanças mais estreitas com as empregues na espeleologia do que com as usadas no montanhismo/escalada.
Os franceses foram os pioneiros na exploração de canyons e no desenvolvimento de técnicas próprias. Éduard Alfred Martel, considerado o pai da espeleologia, efectuou em 1888 a travessia da gruta de Bramabiau, comparável a um canyon mas subterrâneo. Seguiram-se as expedições de Briet (1889), Janet (1893), Fournier (1900), Dubosq (1933), Joly (1936) e Minvielle (1960), em várias regiões: Alpes da Alta Provença, Alpes Marítimos, Alto Aragão, Gavarnie, País Basco, serra de Guara, etc. Na década de 70 surgem os primeiros topo-guias de canyons pirenaicos. Os topos espanhóis só viram a luz na década de 90. O primeiro grande prémio de descida de canyons foi organizado, em Setembro de 1992, pela Federação Francesa de Espeleologia em Gèdre (Gavarnie).
O canyoning em Portugal é uma prática relativamente recente. A descida de canyons faz-se geralmente em duas a três dezenas de cursos de água e contará com pouco mais de três dezenas de praticantes assíduos no meio associativo. De resto, trata-se de grupos de amigos inseridos em actividades organizadas por empresas e pouco mais… A prática de canyoning inicia-se nos anos 80, no Gerês. Um grupo de montanhistas, atraídos pela inacessibilidade e beleza de alguns vales encaixados, muniram-se de equipamento de escalada e partiram à descoberta de algumas gargantas. Estes desfiladeiros profundos, escavados pela acção das águas de escorrência, eram, então, os últimos segredos das maravilhosas paisagens do Gerês. O que encontraram ultrapassou todas as expectativas: piscinas naturais, cascatas e gargantas ladeadas de impressionantes vertentes.
Divulgada a experiência, gerou-se uma “corrida” à descoberta de novos rios, igualmente repletos de cascatas e piscinas. Os mapas topográficos foram estudados em busca de rios declivosos e as descobertas sucederam-se. Hoje, a maioria dos percursos de canyoning já estão reconhecidos, mas muitos ainda não foram divulgados, devido ao receio de que a generalização da actividade possa afectar negativamente o equilíbrio ecológico desses ambientes naturais.
Embora sem a extensão ou a importância dos canyons mais famosos da Europa, os percursos portugueses podem ser particularmente apelativos e a Madeira surge mesmo como excepcional no panorama internacional. Como as águas não resultam de degelos, são, em geral, bastante cristalinas e apresentam temperaturas suportáveis ou mesmo apetecíveis.
Os percursos de canyoning mais interessantes localizam-se nas serras do Gerês, Alvão, Arada e Freita, tal como na ilha da Madeira.
No entanto, os mais frequentados não são necessariamente os mais espectaculares, já que a maioria dos praticantes recorre a circuitos comerciais que privilegiam a acessibilidade e o baixo risco.
Entre os cursos de água em que se pratica canyoning destacam-se os rios Âncora, o Caima, Conho, Fafião, Teixeira, Frades, Vez, ribeira da Teja, ribeira de Ribatua, entre outros. Após uma primeira descida, torna-se difícil resistir aos encantos deste desporto, em que a aventura e a descoberta decorrem num ambiente mágico de água e montanha.
Mas não se pode esquecer que, tal como quase todos os desportos de aventura, o canyoning envolve determinados riscos que não devem ser ignorados.
(P.C., Jun. 2013)
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